Por Antonio Fernandes
-… o gato se enfiou no telhado e não quer mais sair de lá Srta.Cobain…
-É Fradenburg, Srta.Taylor…
-Oh, me desculpe, é Fradenburg novamente? Mas meu marido não consegue trabalhar e dormimos mau essa noite. Faça alguma coisa ou vamos ter que chamar a polícia, você sabe como é…
-Não se preocupe, eu vou falar com ele, tenho certeza que vai entender.
-Obrigado, realmente obrigado!
-Não tem de que…
Ela fechou a porta e suspirou. Era o quarto vizinho que vinha reclamar. Seu filho estava completamente fora de controle tocando aquela bateria que ganhou do avô todos os dias até as mãos doerem. Dessa vez havia começado a tocar de madrugada, e se nem nas outras casas conseguiam dormir, para ela havia sido impossível. Mas não conseguia punir o garoto, mau conseguia imaginar o que ele estava passando.
Se recusou a ir silencia-lo e Jason, que estava dormindo lá naquela noite, fez algumas coisas que ela não gostava de se lembrar.
Caminhou vacilante indo em direção ao quarto de Kurt. Suas costas doiam e seu braço estava rasgado de golpes de cinto. Ela precisava fazer o filho parar.
Ouviu o som de dentro do quarto. Em meio a golpes de bateria conseguiu escutar –We hurdle bodies that lay on the ground! – Bateu na porta, mas duvidava que seu filho houvesse percebido – and the russians fire another round! – tentou abrir a porta, mas ela foi barrada pela comoda, arrastada até ali para impedir alguém fizesse exatamente isso – We get so near yet so far away! – Empurrou e gritou pelo nome de Kurt, as lágrimas dominando-a. E de repente o som para.
-Que é? – A porta só abre uma fresta.
-Filho, os vizinhos estão pedindo… pra você abaixar o som…
-Dane-se os vizinhos.
Filho! – ela põe o braço para impedir a porta que já se fechando.
Kurt a encara.
-Eu te amo! – ela diz.
-Dane-se você! – e se prepara para fechar no braço dela.
-Mãe, o que é isso? – ele olha assombrado para os machucados.
-Não é nada… é só… não é nada.
Tira o braço do vão e se afasta correndo. Numa olhada de relance vê seu filho olhando incrédulo nos seus olhos.
A última coisa que escuta é um uivo, e os sons da bateria sendo destruída e jogada pelo quarto.