Por Antonio Fernandes

tremeluzente expressão de misericórdia
cheiros de anis e gin
confusões profusas e mentais
tremo e tremo e tremo como alguém tão ansioso quanto um beija flor antes de trepar
as batidas cardiacas
aceleradas como o motor biturbo de um Mclaren dando largada
vou explodir como um cartucho de polvora
e voar direto através do seu crânio
explodir seu cérebro e pintar o teto de rosa
vou pinta-lo escrito “Sete Meia Dois”
Vou correr uma meia maratona depois outra meia maratona
porque não uma maratona inteira
porque então não seriam duas
cada epístrofe de energia carbonizada
com envolucro molecular fará metástase
dentro de mim e vai queimar
vai ser carburada a exatos quatrocentos e oitenta e sete graus
vou pegar fogo
em chamas
será possível me ver parindo toda a humanidade lá do
cabo das tordesílhas
ìcaro vai desabar do céu
por minha causa
vou decolar num foguete em explosão derretendo combustível fóssil
milhões de toneladas de combustível fóssil daqui até outro universo
achar aqueles desgraçado Prometeus que entregou o fogo ao homem
e vou pessoalmente comer os abutres que lhe comem os intestinos
e vou comer-lhe os intestinos eu mesmo
a cada dia seus intestinos crescem
a cada dia seus intestinos eu vou comer
carnivoro onipresente sujo com as bocas as papas a garganta o peito de sangue
sangue do sangue de Prometeus que urra de dor
vou devorar-lhe as entranhas todos os dias e sorrir
e atravessa-lo em foguete
arranhar suas costas enquanto meto meu pau mais fundo
e te fodo como merece ser fodida
ansiedade é uma desgraça
essa aceleração desnaturada da carne e dos ossos
vontade de correr de trepar de trabalhar de estudar de fazer tudo num dia
onde não acontece
nada
viver isso todos os dias
é um sacrilégio
e continuamos
vivendo

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