Por Antonio Fernandes

Saí para o vento
quando precisei de um abraço
para fumar e beber
porque saí?
Você não me abraçará, eu sei
já não consigo esperar
o cigarro é um bom amigo
como quem é amigo dum agiota
ele me abraça agora
para me cobrar depois
com juros
enfim é o mesmo que o diabo faz
quando vendemo-lhe a alma
preciso do abraço agora
o abraço que você não pode dar
quando saí para o vento
senti frio, e me sentei no concreto
e debaixo duma árvore seca
com gosto de serrado,  vi uma flor
um dente e leão
e noutros quatro galhos estavam
dentes de leão secos, mortos
o que restou era lindo, forte e saudável
sou como aquele dente de leão
sozinho agora tenho o sol só para mim
mas preferia antes que fosse um eu
a dividir o sol e ter companhia
abraçado ao cigarro, bêbado
hoje tenho o sol e a chuva e o vento
só para mim
mas preferiria que não fosse

Share:

Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on pinterest
Pinterest
Share on linkedin
LinkedIn

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

On Key

Posts Relacionados

Baco

Por Antonio Fernandes O ordinárioJovem padrãoBusto vazioArroz com farofaNão tinha assuntoNem modosEra qualquerImemorávelEstepeHavia vários delesNomes comunsEsquecíveisCujos quaisA única razão em serEra pontuarA presença e o

Langerie Preta

Por Antonio Fernandes Caem as calçasSobra um langerieLinhas pretas com padrõesQualquer coisa sexualEm cordas trançadasDeixando ver sem verEla sorriGira o corpoJoga o cabeloSe jogaVislumbre de

O Privilégio Branco

Por Antonio Fernandes O privilegio brancoCorta as veiasParecia sempreTao alegreÉ que as drogasEscondiam o fundo da dorParecia sempreTao decididoÉ que o opio lhe cancelavaO torporDas