Arde a Chama, Bebe a Alma

Por Antonio Fernandes

Não há humano no mundo que não tenha versado amor.
Se não versou, não é humano.
Somos criaturas apaixonadas e rondamos tal mundo,
a buscar por euforia. Paixão.
Dar de comer a alma e dar de beber ao peito.
Que arde se não saciar o desejo,
de ter outr’alma acoplada a tua.

Há um mistério ao amor, que nos fisga.
Criaturas apaixonadas pelo mistério,
Que pisaram na América e na Lua,
De bravo peito e coração valente,
A desbravar mistérios misteriosos,
E que mistério mais misterioso,
Que o mistério de encontrar um amor igual ao teu? Não há.

Lutamos mil guerras e travamos mil batalhas,
Mas quando outr’alma igual a nossa vislumbramos,
Não há buraco que nos salve de tamanho pavor,
Não há muquifo que nos proteja de tamanho desastre.

Amor é desastre.
Amar é cantar uma cantiga doce, a beira do precipício.
Sabemos disso, mas há uma beleza rara,
Uma beleza rara nas canções do precipício,
Que hão de nos seduzir a elas,
E ainda rezar que chova.

Amar é beber o corpo de alguém, e ama-la como ilusão.
É fazer dela um Deus e venera-la, e fazer-lhe oferendas.
Sacrificar um boi, um plebeu, ou a si mesmo.

Há uma certa ferocidade nos corações partidos,
Há uma certa indecência no jovem apaixonado,
Há uma certa alegria em amar e ser amado.
Uma alegria tão pura,
Doce, delicada,
Que não há pote de ouro no mundo que a troque,
Não há corneta e cavalaria que nos faça correr,
Não há lei que nos impeça ao amor.

De coração, são todos loucos.
Loucos que joguemos pedras, e apenas pedras,
pois nem frutas merecem.
Não há louco no mundo tão louco quanto um louco apaixonado,
Não há maluco que seja menos maluco que o maluco enfeitiçado.

Cantamos amor, vivemos amor, sofremos amor!
E o amor nos ronda e penetra e eleva,
E o amor nos torna dignos de Minerva,
Afrodites, Cupidos, Cleópatras,
Ouçam meu brado!

Estou apaixonado.

Dedicado a uma tuelhinha serelepe, linda e serena.

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