Por Antonio Fernandes

Ridículos eu julgava os homens,
            que roubavam corações de garotinhas,
                             para gozo próprio, e satisfazer.
                                          Incrível ter me tornado um deles.

Sobre os ridículos, direi
com risos confirmo, eram tolos
instintivos. E nada darei
a falar, pois não há.

Dos corações roubados. Probrezinhas!
Princesas, Chapeuzinhos, Sereínhas!
Devoradas cruelmente pelos lobos.
(Não realmente lobos, mas cachorrinhos fantasiados de lobos.)

Da satisfação, Rá!
Não era realmente gozo,
Só masturbaram-se nas pobrezinhas,
E bem feito a elas, por sua tolice.
   

Quem, pergunto-lhe, quem?
É estúpido de passear em bosques de lobos?
Pois quem o faz quer ser devorado,
Se não quisesse, pois não passeasse ali.

Quem, pergunto-lhe, quem?
Há de tomar o frasco dado pela velhinha,
que tão obviamente se apresentou bruxa?
Só pode, vos digo, querer ser envenenada.

E sobre eu, que direi?

Bom, posso dizer que me fiz Príncipe,
pois vi e percebi e conheci,
o coração de todas as Chapeuzinhos
e Brancas de neve e Ariéis e Adormecidas livres por ai.

E me tornei lobo.
Pois minha intenção nunca foi mais do que
a intenção dos tolos, lobos,
Os meus companheiros.

Come-las todas.

Não é possível ser só príncipe,
visto que todas almejam perigo.

Não é possível ser só lobo,
visto que todas almejam a salvação.

Eis que me torno o perigo,
e sou também a salvação.
Sou o remédio de minha própria doença.
O ópio da sua dor.
Uma armadilha e uma redenção.

E elas vem sempre,
caindo sempre,
errando sempre,
e por mim, suspirando, sempre.

Pois ei eu, Cavaleiro de Corcel Branco.
Da língua de mel, destemido.
Galopando forte ao vento,
A matar a mim mesmo, o Dragão.

E eis que a Donzela me ama,
por ser o Dragão, e po-la em perigo.
e por ser o Príncipe, e salva-la,
de que?
 mim mesmo.

Pois não é que sou,
e nada mais que sou,
uma ilusão?

Eis o segredo perfeito a todos,
todos os cachorrinhos que almejam ser lobos,
e todas as princesas que duvidam de seu conto de fadas.
Essa é minha lição.

Aos que ouviram, olhos abertos.
E a todos os outros?
Bom, posso dizer-te,
com a voz do narrador, forte e onipotente,

Que viveram felizes pra sempre.

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3 comentários em “Fadas dos Contos”

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