O Hedonista Ediondo

Por Antonio Fernandes 

A faca corta
não em serra
Mas em ponta
Atravessa devagar
Meu peito nu
A faca é cega
É torta e crua
Ela desce e volta
E não vem molhada
não restou sangue
Nada mais bombeia
Os restos escorrem
Num rio que transvasa
Olhos abaixo
gosto azedado de sal
tenho pensado muito
se meu mal é ser fraco
ou se meu mal
É ser mau
tenho olhado a dor que causo
do fracasso e da imobilidade
incutida profunda e vigorosamente
Por muitas pessoas
Que me fizeram muito mal
ou se tenho sido mau
Por egoísmo à outros
e devolvido o mal que
Me foi afligido
Não nos enganemos
O passado mostra que
o fundo do poço pode sempre
ser mais fundo
E a vida mostra que
não tem beiradas
A dor pode durar para sempre ou ainda
Crescer até o insuportável
Ou até mesmo sumir
E nem deixar nada
Nem rastros
Deus joga dados
E cada encontro é aleatório
Cada gota d’água traçará sua trajetória única
Não calculavel por números
Ainda que vá terminar
Necessariamente no mar
E no ar
Antes de desabar novamente
E sofrer tudo que se há de sofrer
dessa terra maldita
Que enchemos de sangue e ossos
que enchemos com o mau do mau que nos é incutido
Por agressões não intencionais de todos contra todos
profundamente magoados
por sermos julgados
enquanto julgamos
A humanidade é o mal
se passando por bom
e resumo riscos de uma poesia torta
ilegível
Para imprimir as razões tortas é ilegíveis
Com que reflito nesta ideia dolorosa e irrestritamente real

Eu sou o mal? Ou apenas patético?

Mas não somos todos?

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