Um Garoto de Aberdeen #3 – Boddah

Por Antonio Fernandes
Maio de 2012

O pequeno Kurt está deitado no carpete de seu quarto rabiscando um Aquamen perfeito enquanto assobia qualquer tipo de música. Olha pra frente e percebe um par de cadarços desamarrados, olha pra cima e vê um garoto de cabelos e olhos pretos com um sorriso estampado na face olhando pra ele.
– Olá Kurt.
– Boddah! A quanto tempo você não me visita! Sente-se comigo. Por onde tem andado?
– Você sabe, por ai.
– Deve ter ido se meter na floresta denovo – Kurt Ri – você adora aquele parque.
– E aquele lago – reflete o menino
– E o lago! Deus, quanto tempo eu não vou até lá?
– Muito tempo, tanto é que me esqueceu.
– Pare com isso, você sabe que eu não podia ter esquecido de você. Vem, me ajude a compor uma música como pedido de desculpas.

O outro menino ri, senta ao lado de Kurt e se apoia no armário.
-Que tipo de música vamos compor?
-Ah, vamos compor alguma coisa que nos deixe podre de ricos. Sobre o parque então, sim?
-Tudo bem, sobre o parque. Mas você sabe que não sou bom nessas coisas.
-Bobagem – E começa a assoviar um ritimo, varia-lo e tentar criar um sing novo, até que alcança o que deseja. – pronto, já temos nossa melodia Boddah.
– Não sei como você consegue essas coisas.

As árvores cheiram forte.
O cascalho dói meus pés.
Boddah mora lá, Boddah mora lá.

-Não pode por meu nome na música! Seus fãns nunca vão entender.
-Claro que vão, é só apresentar você pra eles.
-Quero ver você conseguir fazer isso.
-Fique quieto, deixa eu pensar.

Os pássaros cantam doce,
No lago eu vejo o céu,
Boddah mora lá, Boddah mora lá.

-Já disse que não sei como você faz isso?
-Fique quieto, deixa eu terminar!

Ah! Boddah é livre e é rei,
Vive como eu jamais viverei,
Queria morar com Boddah,
Boddah mora lá, Boddah mora lá.

-Você não pode fazer versos de três estrofes e depois construir um de quatro.
– Posso sim, sou eu que estou escrevendo, e fique quieto!

A terra está coberta de neve,
As árvores estão nuas,
Boddah está com frio, Boddah está com frio.

O vento vem do mar e é gelado,
Posso caminhar sobre o lago,
Boddah está com frio, Boddah está com frio.

Ah! Bodah é livre e é rei,
Vive como eu jamais viverei,
Queria morar com Boddah,
Boddah mora lá, Boddah está com frio.

A porta abre.

-Com quem você está conversando filho?
-Com Boddah, mãe! ele exclama, sorri e aponta para o outro menino.
A mulher olha para o vazio.
-Essa história de amigos imaginários denovo? Você já passou dessa fase. Desça rápido, sua comida vai esfriar.
O menino olha desiludido para o outro, que esboça um olhar triste. Boddah balança a cabeça.
– Adeus, Kurt.

E desaparece.

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