Por Antonio Fernandes


Se você está lendo estes versos 
É porque morri
E o amanhã que é hoje
Outrora, agora
Sou restos enterrados
De tudo o que vivi
Deitado ao berço
Despido em vestes hospitalares
Hão de me drogar 
Hão de me entubar 
Rabisco essa carta
Aberta ao amor
Aos filhos lhes deixo 
A minha ausência
Que lhes criou
E a presença, da falta 
Agora que me vou
Aos meus pais, devo desculpas
Poderia ter errado menos
Poderia ter entendido mais
Mas de tolo, eu jovem
Não tive como saber
Amigos, não deixem faltar!
Derrubem, no bar,
Uma cachaça exemplar
Na terra, por mim 
Para que estejamos juntos
Amor, guarde consigo
Um pedaço do meu carinho
Veja o filme que eu vi inteirinho 
E voce dormiu na metade
Aquele filme dos monstros 
Você sabe qual é
O tubo percorre a boca,
Garganta, pulmão 
Rasga meu coração, 
Amarrado na maca, 
Estável,  instável 
Dormirei aqui outra vez
Sem saber se
Alguma outra vez
Acordarei para 
Ver-lhes todos
A vida é cheia de pressas
Mas a morte
Caminha devagar
Os que amo, os que prezo.
Os que em oração comigo vão 
Sei que rezam por mim 
Mas Deus desenha 
Caminhos tortos
Por onde passamos retos
Desnorte
Rabisco estes versos
Tremidos, nervosos
De alguém que prepara-se
Para dormir
Mas nao prepara-se
Para acordar
Ps:
Deus entregue esta
Rosa para minha
Neta Ariel 
nao sei se poderei
Entrega-la pessoalmente

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